A
fórmula de Bhaskara
Dificilmente um resultado matemático é fruto
do pensamento de uma única pessoa. E, mesmo que esse resultado seja
conhecido pelo nome de alguém, isso não significa que tenha sido
essa pessoa quem o descobriu ou mais contribuiu para estabelecê-lo.
No Brasil, curiosamente, a fórmula de
resolução da equação do 2º grau é conhecida, desde os anos
1960, por fórmula de Bhaskara.
Não se sabe precisamente a origem desse costume, pois, em
outros países e na literatura matemática, a fórmula não é
conhecida assim. Mas, será que o hindu Bhaskara (1114-1185) teve
algum papel na descoberta dessa fórmula? Qual teria sido esse papel?
Estudando a história do desenvolvimento da
ciência, aprendemos que os hindus sempre demonstraram grande aptidão
para a Matemática, em especial no que se refere a seus aspectos
numéricos. A eles são creditadas, por exemplo, a criação do
sistema de numeração que usamos hoje em dia e a primeira formulação
conhecida da regra de sinais da regra de sinais da multiplicação de
números reais, em geral, Bhaskara é considerado o maior matemático
e astrônomo da Índia do século XII. Aliás, nesse país, de longa
data, Matemática e Astronomia
eram cultivadas conjuntamente – a primeira, em boa parte para
servir à segunda.
Bhaskara também era astrólogo. Uma lenda
talvez explique o fato de ter dado o nome de sua filha Lilavati ao
capítulo de Aritmética
de um grande tratado de Astronomia que escreveu (havia na
obra, também, um capítulo sobre Álgebra).
Segundo a lenda, Bhaskara calculou, com base em seu saber
astrológico,
a data e a hora propícias para o casamento da jovem. Chegado o dia,
ela esperava, ansiosa, a hora prevista diante do
relógio de água.
Mas, sem que percebesse, uma pérola que enfeitava seus cabelos,
caiu no fluxo de água, obstruindo-o. Com isso, a hora prevista
passou, e o casamento não se realizou. O nome dado àquele capítulo
seria uma forma de consolar a filha pelo desgosto.
Voltando às equações do 2º grau, cerca de
três milênios antes de Bhaskara, os babilônios já sabiam
resolvê-las – com coeficientes positivos e aceitando apenas as
raízes positivas -, por um processo semelhante ao que se usa hoje,
mas expresso numa receita verbal prática, não formulada
genericamente. Esses cálculos se resumem à expressão
moderna,ou seja, eles já aplicavam a “fórmula de
Bhaskara”...
O grande matemático persa Al-Khowarizmi
(século IX), responsável pela difusão da Álgebra na
Europa, usava correntemente o método de completar o quadrado. Por
exemplo, para resolver a equação x² + 10x = 39 (expressa em
notação atual), ele fazia antes a seguinte transformação:
x² + 10x = x² + 2(x.5) = x² + 2(x.5) + 5² –
5² = (x+5)² – 25
Daí: (x+5)² – 25 = 39 e, portanto, (x+5)²
= 64. donde x+ 5 = 8 e x = 3. (Observe que al-Khowarizmi ignorava a
raiz quadrada negativa de 64).
A ideia usada atualmente para deduzir a
“fórmula de Bhaskara” - que consiste em multiplicar o termo
quadrático pelo quadruplo de seu coeficiente, para depois completar
o quadrado no primeiro membro – se deve ao hindu Sridara
(século XI), como o próprio Bhaskara deixou registrado. Bhaskara,
por outro lado, mostrou que era possível completar o quadrado sem a
multiplicação feita inicialmente por Sridara. Pelo que vimos, a
fórmula de resolução de uma equação do 2º grau poderia ter
outro nome, talvez mais justo (fórmula de Sridara, por exemplo). Mas
por que não o de Bhaskara? Afinal, ele também deu sua contribuição
ao estudo dessas equações e foi o último grande algebrista de um
período de ouro da matemática hindu.
Adaptado
de (Matemática e realidade: 9º ano / Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce,
Antonio Machado. - 6. ed. - São Paulo : Atual, 2009. - Páginas
91/92)
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